quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um vácuo à esquerda


                                                    por Mário Medina
Todas as medidas do chamado ajuste fiscal de Dilma/ Levy, como o mega-corte de cerca de 70 bilhões no orçamento da União, com vultosíssimas quantias retiradas de áreas notadamente em crise, como educação e saúde; o endurecimento nas regras de benefícios como seguro desemprego e pensões por morte; tudo em função de garantir o pagamento religioso dos juros da divida pública, fazem do Governo Dilma um governo cada dia mais impopular, e do PT, um partido cada vez mais rejeitado.
Os discursos de campanha fizeram com que milhões de brasileiros acreditassem no PT e depositassem suas esperanças no voto em Dilma. Diante da ameaça do retorno tucano, outros milhões optaram pelo voto útil em Dilma pra barrar um eventual ascenso da direita. Pois bem, agora esses milhões de brasileiros amargam a crise recessiva com um governo que, a despeito de se reivindicar do Partido dos Trabalhadores, governa como árduo defensor dos interesses da elite, cortando na carne direitos históricos da população, fazendo com que os mais pobres paguem pela crise.
A contradição do PT é tão grande que uma ala de parlamentares se recusam a votar nas medidas 664 e 665 e já falam em abandonar o partido. Tudo isso porque Dilma e o PT se apegaram tanto ao poder que preferem continuar administrando o estado brasileiro ainda que seja pra manter a pose. As pessoas mais razoáveis a uma hora destas já notaram que o PT não manda mais em nada.
O PT virou completo refém da máquina, um mero boneco de ventríloquo nas mãos do PMDB e da alta burguesia brasileira. O PT caminha por uma degeneração sem volta; e caminha mesmo para desfiliações em massa e rachas incontáveis. Uns pela direita, como Marta que abandonou o barco e optou pelo PSB como destino; mas também com dissindências de parlamentares e figuras públicas mais progressistas que recusam em centralizar-se diante dos ataques desferidos ao conjunto dos trabalhadores.
O Brasil assiste a queda do mais importante partido da volta à democracia, um partido que por anos, talvez, décadas, serviu de referência aos trabalhadores e jovens que ansiavam por um país livre do poder das oligarquias e de seus caciques; partido que capitalizou os sonhos libertários de toda uma geração de lutadores, mas que agora chega à sua ruína, e, em seu afã pelo poder, distribui maldades a torto e a direito.
Oxalá os partidos da esquerda revolucionaria filiem essa camada de petistas honestos e descontentes e consigam diferenciar-se do PT em suas trajetórias. A historia se repete primeiro como tragédia, depois como farsa. Estaremos aqui lutando para construir uma oposição operária e comunista. A tarefa agora é construir um partido operário e revolucionário pra reagrupar lutadores e militantes, e servir de referência em tempos de tanta crise de referência.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Difícil ser pobre



                                                         Crônicas do mundo micro

A ideia é contrapor fatos do cotidiano à notícias do dia veiculadas pela grande mídia.


A vida no Brasil anda cara. Todo mundo sabe disso. Tendo que viajar ao interior de São Paulo, pra região de Ribeirão Preto, optei por uma alternativa mais econômica, e ao invés de viajar em linha convencional de ônibus, me meti numa semi-aventura com uma companhia que transporta sacoleiros do interior que fazem bate e volta no Brás.
Pra ser sincero, devo dizer que essa opção não é minha preferida. O ônibus sai com atraso, o serviço é ruim, o veículo vai abarrotado de sacolas e sacoleiros, todos misturados por falta de espaço no bagageiro, etc...
Ao entrar no ônibus, tendo me acomodado com alguma dificuldade no assento que me tinham reservado, desabafei com a senhora da poltrona ao lado:
- Difícil ser pobre, hein...
Ela confirmou meu comentário com um sorriso simpático.
E, como a desconhecidos o assunto de conversas como essas sempre seja ocupado por observações climáticas, principiamos a falar da garoa e do tempo ligeiramente frio daquele fim de tarde paulistano.
A senhora falava do clima em Franca, seu destino, e dizia que por lá o tempo era propício à colheita do café.
- A senhora colhe café?
- Colho.
Foi então que minha curiosidade falou mais alto e quis saber do cotidiano dos cafezais, dos horários de colheita, etc.
A senhora se apresentou. Dona Josefina, 49 anos. Se me dissesse ter 60, eu acreditaria com naturalidade. Tomara que ela não tenha notado espanto no meu olhar. Tinha feição de mulher sofrida, rosto enrugado e queimado do sol, cabelos compridos e o bonito sorriso de uma providencial dentadura.
Dona Josefina me contou ser de Minas Gerais. Viera passar uma temporada na casa de um dos seis filhos, com o intuito de colher café por uns meses, pra ocupar o tempo ocioso do desemprego advindo de uma safra não muito promissora em sua cidade.
Voltava da casa de outro filho, que agora constrói uma casa em Francisco Morato, região da grande São Paulo, e ao chegar em Franca, se encontraria com seu caçula, sua única companhia depois da viuvez que veio três anos atrás.
O ônibus saiu da cidade e tomou a rodovia. Dona Josefina cochilou e eu fiquei contemplando um lindo pôr do sol detrás da paisagem de montanhas verdes. Fiquei imaginando as pessoas que nessa hora voltam dos cafezais pra suas casas, do pouco tempo que tem pra aproveitar a companhia da família antes de dormirem e levantarem lá pelas quatro da manhã, tendo de fazer tudo de novo no dia seguinte.
De manhã, pela TV, havia visto Dilma receber o primeiro-ministro chinês em reunião solene de acordos bilaterais.
Agora eu via o céu alaranjado por cima da estrada, de dentro de um ônibus cheio de gente, ao lado da minha nova amiga agricultora...
Ser pobre é difícil. Mas dignidade não se compra. Melhor ser pobre e passar despercebido do que ser presidente de uma semi-colônia e fechar os olhos diante da miséria alheia.
Ou... melhor ser pobre e passar despercebido do que ser burocrata de um governo que se diz comunista e que esfola sua gigante população pra se manter no primeiro lugar da economia mundial.
Na esfera macro dos acontecimentos há muita pompa e negociatas. Já imaginaram dona Dilma pegando no pesado e viajando cinco horas num ônibus apertado?

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O país de uma meia duzia...

                                                                                                              por Mário Medina

Como diz o ditado: Não existe almoço de graça. Alguém sempre tem de pagar a conta. No Brasil, quem paga a conta da farra dos especuladores, banqueiros e grandes capitalistas é o trabalhador. Via de regra, por aqui os lucros são privatizados e os prejuízos, socializados. Não é que o Brasil seja um pais de ninguém; o Brasil é o pais de uma meia dúzia. Sempre foi assim, e, a depender da pequena elite que gere os negócios por aqui, tudo deve continuar a mesmíssima coisa.
Só mesmo a revolução socialista para livrar o Brasil da barbárie capitalista. Não é exagero algum afirmar isso. O discurso de tom conciliador do PT, essa ilusão reformista difundida por uma outra meia dúzia, só que esta travestida de intelectualidade universitária progressista, evidencia seu fracasso, sua saturação, e pede passagem para alternativas radicais.
Não é qualquer governo que está desferindo duros golpes contra os direitos da população trabalhadora. Estamos tratando de um governo que se diz dos trabalhadores, defendido e tido por velhos pelegos como um governo democrático e popular, orgulho da nação. Contradição maior não poderia haver. Esse governo que está aí é composto por quadros políticos que ha décadas atrás eram a esperança das cabeças mais progressistas.
Pois bem, foi esse governo que passou as MP`s 664 e 665 no congresso. Ou seja, de um governo que se esperava a defesa intransigente dos direitos trabalhista é que saiu o maior dos ataques dos últimos tempos. Dilma só não sofreu impeachment da extrema direita porque continua sendo a opção mais funcional à maioria do conjunto da direita e dos capitalistas.
Talvez FHC não fosse tão eficiente, capaz de tal proeza direitista. Marina e Aécio igualmente. As tendências golpistas dentro da atual gestão refluem à medida que Dilma abre mão de seu programa de campanha em favor dos interesses da meia dúzia patronal brasileira.
Já afirmávamos que Dilma dava os aneis pra não perder os dedos. E vai continuar assim. Esse governo vai ser desmoralizado e sangrado de modo que as chances de Lula em 2018 sejam minimizadas em favor da vitoria eleitoral da direita mais tradicional.
O ascenso da direita no Brasil é inquestionável. Globo e Veja dão a tônica da oposição ao governo Dilma, e, de panelaço em panelaço, uma nova geração de reacionários dorme acreditando que a culpa é só do PT, que o PT é comunista, castrista, bolivariano, etc, etc.
Ora vejam, o mesmo PT, que no dia anterior à votação do projeto que endurece a concessão ao seguro desemprego e às pensões por morte, levou ao ar um programa de TV que se opunha ao PL 4330, da terceirização. É o cumulo da cara de pau. Cinismo pouco não faz mais o estilo da cúpula petista.
No primeiro de Maio da CUT, em São Paulo, Lula subiu ao palco ovacionado pelos capas-pretas da maior e mais representativa central sindical do país, e dirigiu à multidão que ali se encontrava o seu discurso mais à esquerda dos últimos tempos. Natural que ele agora assuma um discurso radicalizado. Acuado pela direita, e até numa tentativa de se descolar da figura mal avaliada de Dilma, Luta tenta tirar o seu da reta. Ele, mais do que ninguém, devia ter ciência do que são capazes os ricaços brasileiros.
Ironia do destino ver Lula dizer agora que a elite brasileira é mal agradecida, que ele cooperou com vultosas quantias via BNDES para que os capitalistas brasileiros se desenvolvessem e batessem recordes de lucros num momento mais favorável da economia mundial. Lula entrou no jogo da democracia burguesa, e agora terá de se ver com as conseqüências cíclicas do sistema. A queda na taxa de lucro dos capitalistas chegou pra levar direitos trabalhistas consigo, e, com Dilma ou sem Dilma, com PT ou sem PT, o ajuste será cobrado pelos abutres. Pobre do povo brasileiro, que agora tem de amargar o desemprego na casa dos 7%, os juros em escalada, os aumentos abusivos nas contas de energia elétrica, a inflação corroendo os defasados salários, etc.
Os tempos são maus, e exigem soluções drásticas. Greve geral já! É hora dos trabalhadores tomarem as ruas contra as barbáries do sistema, com palavras de ordem de transição ao socialismo, com ação direta e protagonismo operário. Ou é isso ou então o Brasil continuará sendo o país de uma meia dúzia.